domingo, 18 de maio de 2008

A GARÇA (adaptado de La Fontaine)

A estória que vou contar
Me contou um velho senhor
Que no campo foi criado
Um grande conhecedor
Das coisas da natureza
Que ele sempre deu valor.

Me contou um caso sério
De uma garça vaidosa
O maio defeito dela
Era ser muito orgulhosa
Pra escolha do que queria
Se mostrava presunçosa.

A garça antes do almoço
O rio começou beirar
Era tempo de inverno
Mesmo assim foi passear
Sem o que comer em casa
Ela inventoiu de pescar.

Andando por dentro d'água
Bem no raso percebeu
Uma carpa bem gordinha
Que muito lhe apeteceu
Mas estava de dieta
Seu corpinho agradeceu.

__Não gosto tanto de carpa
Não estou com fome agora
Vou esperar que cresça mais
E deixou a carpa ir embora
Sacudindo as brancas plumas
Saiu dali sem demora.

Levantou o lindo pescoço
Nada lhe preocupava
Com o sol foi se aquecendo
Muito contente ela estava
Quando a fome lhe batesse
Peixe bom sempre encontrava.

Não demorou muito tempo
E a fome forte bateu
Esqueceu da vaidade
Ao lembrar que não comeu
Esqueceu todo orgulho
Para o rio ela correu.

Chegou no mesmo lugar
A carpa havia sumido
Precisava de alimento
Seu petisco foi perdido
Apenas um feio bagre
Nadava descontraído.

__Não vou comer esse bagre
Eu sou uma garça real
Mereço coisda melhor
Peixe nobre sem igual
Comer um peixe comum
Certamente fará mal.

Saiu meio desanimada
Mas com a cabeça erguida
Uma ave tão imponente
Não se dava por vencida
Era bela e orgulhosa
Merecia boa vida.

Fome não conhece orgulho
Soberba vira humildade
A garça voltou depressa
Pois tinha necessidade
Entrou de novo no rio
Enfrentou a realidade.

Meteu o bico dentro d'água
Toda afoita sem olhar
Quando reparou direito
O que tinha pra pegar
Apenas lambarizinhos
Parou para analisar:

__É até falta de respeito
Pra quem é bela e garbosa
Tenho porte de rainha
Das aves a mais formosa
Fico sem me alimentar
Não sou assim tão gulosa.

A garça voou para perto
Com cara desexabida
Mesmo ela passando fome
Não estava assim perdida
Ficou sem a nobre carpa
Por dieta descabida.

Não tinha mais lambaris
Peixe sabe ser matreiro
Nadavam fazendo festa
Vendo a garça no poleiro
Que constristada voltou
Para comer bem ligeiro.

Lambaris que não são bobos
Trataram de se esconder
A garça ficou nervosa
Por não ter o que comer
Pegou uma viscosa lesma
E devorou com prazer.

Ficou tristre e encabulada
Mas aprendeu a lição
Rejeitou por vaidade
E perdeu boa ração
Tinha que dar por feliz
Com a a parca refeição.

Dessa vez a dona garça
Que era mal acostumada
Aprendeu que a vaidade
É doença mal curada
Quem na vida muito escolhe
Acaba sempre sem nada.

F I M

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