quinta-feira, 15 de maio de 2008

A ONÇA E O VEADO

A ONÇA E O VEADO - (provavelmente uma lenda indígena)

Foi num tempo bem distante
E aconteceu na floresta
Todos os animais contentes
Viviam fazendo festa
Dizem que eles falavam
Ninguém prova nem contesta.

Bicho nunca teve casa
Em nenhuma freguesia
O veado então pensou
Casa ele construiria
Um abrigo pra dormir
Quando terminasse o dia.

Pela campina saiu
Procurando um bom lugar
Encontrou plano terreno
Cuidou logo de limpar
Uma casa bem supimpa
Faria para morar.

Quando a onça de noitinha
Na gruta fria acordou
Com toda aquela umidade
A pobre se resfriou
Resolveu __ faço uma casa
Decidida agora estou.

Encontrou o terreno limpo
E alegre ficou a pular
Cortou bastante madeira
E se pôs a transportar
__Bom lugar e tão limpinho
Só Tupã pra me ajudar.

Só depois do sol se pôr
Que dona onça trabalhava
E o veado só de dia
Ligeiro ele não parava
Pensava que era Tupã
Que tanto lhe ajudava.

Logo cedinho o veado
Voltou lá no seu local
Viu a madeira amontoada
Disse: __ Não é nada mal
Com Tupã me dando ajuda
Tenho um parceiro leal.

Foi sem demora e o veado
Todos esteios fincou
Quando foi no fim do dia
Dali ele se retirou
Já tinha escurecido
Foi quando a onça chegou.

Amarrou todas as varas
Bem firme muito apertado
Terminando foi-se embora
Antes do sol ter raiado
O veado de manhã
Ficou contente aniumado.

Foi na beira do riacho
Muito barro ele amassou
Aos poucos foi carregando
Todas paredes tapou
Cansado no fim do dia
Para o campo ele voltou.

A onça chegou devagar
Só depois que escureceu
E vendo as paredes prontas
Bem feliz agradeceu
Poderoso deus Tupã
a quem muitas graças deu.

Usou vara como ripa
E lá no alto ele amarrou
Com cipó bem direitinho
Muito seguro ficou
Ela estava radiante
Qaundo pra gruta voltou.

Mais uma vez o veado
Mal o dia amanheceu
Todo apressado chegou
e do que viu estremeceu
Foi uma ajuda tão grande
Que seu deus Tupã lhe deu.

Apanhou palha e capim
E fez na casa a coberta
De noite ele dormiria
Em uma morada certa
Como estava no verão
A janela ficou aberta.

Tranqüilo ele se deitou
A Tupã agradecido
Julgava merecedor
Do que tinha recebido
Estando muito cansado
Logo já havia dormido.

Acordou com um barulho
A onça estava chegando
Trazia com ela a trouxa
Ela estava se mudando
O veado com o susto
Foi da cama levantando.

A onça nem acreditou
No que os seus olhos viam
Depressa para o terreiro
Eles com medo saiam
Então souberam que a casa
Eram eles que faziam.

Nenhum dos dois abriu mão
Os dois queriam morar
A onça cheia de malícia
Na força quis comparar
O veado que saisse
Ela precisava entrar.

O veado quis acordo
Pra morada dividir
Ele chegava de noite
Bem depois dela sair
E quando raiasse o dia
Ela podia dormir.

A onça teve que aceitar
O acordo do companheiro
No outro dia de manhã
Pensou num golpe matreiro
Chegou trazendo nas costas
Um grande cervo campeiro.

O veado só de susto
Sentiu o corpo lher tremer
Pelos dentes da malvada
Não pretendia morrer
Ele precisava um plano
Agiu antes do escurecer.

Dessa vez o deus Tupã
Ao mais fraco ele ajudou
Quando o veado saiu
Uma grande onça ele avistou
Ela parecia morta
Cuidadoso aproximou.

Bem depressa tirou o couro
Levou com ele guardado
Pouco antes de escurecer
Em casa chegou cansado
Deixou o couro bem à vista
Na parede pendurado.

A onça nem desconfiava
Que ele fosse um caçador
Saiu pisando de leve
Toda cheia de pavor
Pelo medo conheceu
do companheiro o valor.

Fingindo serem amigos
Todos dois desconfiavam
Ouvindo qualquer barulho
Com medo eles assustavam
Viviam apavarados
De casa nunca ausentavam.

Numa tarde bem chuvosa
Estavam a cochilar
Quando o som de uma pancada
Na porta fez ressoar
Os dois correram assustados
Sem saber pra onde olhar.

Com a ventania forte
Grande galho se soltou
Do alto de um arvoredo
E sobre a casa atirou
Até hoje desse casal
Nunca mais ninguém falou.

Eles nunca foram amigos
Eu posso fazer aposta
É impossível se entender
Se um do outro nunca gosta
Eles correm até hoje
Por uma direção oposta.

F I M



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