sexta-feira, 16 de maio de 2008

A VOLTA FRUSTRADA

Foi depois de muitos anos
De uma vida louca e intensa
Que chamou minha atenção
Um certo artigo na imprensa
Falava em destruição
Feita na floresta densa.

Eu levava a minha vida
Com intensa correria
Vida na cidade grande
Outro jeito não teria
Às vezes ficava alheio
Do que no mundo corria.

A notícia do jornal
Falava do interior
As roças de canaviais
Às terras dando valor
De matas e de vazantes
Destrruída com trator.

Esta vida na cidade
Dá na gente esquecimento
Lembrei de onde fui criado
E da roça o fastamento
Esse tempo veio à tona
E tomou meu pensamento.

Já passados tantos anos
Eu resolvi viajar
Saudade bateu no peito
E não deu pra segurar
Precisava então rever
Tinha muito a recordar.

Adiantei minhas férias
Emblsei certo dinheiro
Viajei todo ansioso
Tava no mês de janeiro
Tempo claro e de calor
Tudo passava ligeiro.

Na viagem eu lembrava
Como era antigamente
O verde daqueles campos
Quando na terra a semente
Se plantava com amor
O que hoje ninguém sente.

Do riacho que saudade
Me assaltava com vigor
Nadar pelado na noite
Quando fazia calor
Minha infância foi bonita
É só hoje que dou valor.

Lembrei o pé de guabiroba
Do seu fruto adocicado
Trepado na goiabeira
Bem alegre sem enfado
Nem lembrava que o trabalho
Da roça tinha cansado.

Eu quero ver novamente
Tudo que um dia deixei
Feito criança a correr
Dos detalhes me lembrei
Vou rever a minha infância
E a escola em que eu estudei.

A primeira namorada
O amigo de pescaria
As comidas da mamãe
Como ela ninguém fazia
O beiju de tapioda
No café do meio dia.

Os banhos lá no poção
Toda molecada nua
O meu pai contado estória
No terreiro à luz da lua
Os bailes da adolescência
Leite com farinha crua.

A condução foi chegandp
Já no fim da madrugada
Não ouvi o galo cantar
E também ninguém na estrada
Onde havia uma paineira
Agora não tinha nada.

Minha escola ali ficava
Nos fundos um bambual
Ao lado tinha um campinho
Agora é um canavial
Achei tudo muito estranho
Não podia ser normal.

Eu fui pro lado do sítipo
Que meu pai tinha vendido
Lembrando de nossas coisas
Tudo ali tinha sumido
O nosso belo recanto
Alguém tinha destruído.

A casa virou tapera
Os arvoredos morreram
Guabiroba virou lenha
Meus olhos umedeceram
As rosas da minha mãe
Também desapareceram.

Fui correndo até o riacho
e desolado fiquei
Tava todo assoreado
De tristeza até chorei
Do riacho de outrora
O que fizeram não sei.

Olhei com muita atenção
Onde as vistas alcançavam
Todo o sítio que era nosso
E os demais que avizinhavam
Na mesma situação
Todos eles se encontravam.

Parecia um mar imenso
Toda plantação igual
Cheguei pensar que sonhava
Mas era tudo real
Não dava pra ver o fim
Daquele canavial.

Logo mais fiquei sabendo
Porque da destruição
O maldito capital
Ali deitou sua mão
Com o apoio do governo
Fazia a reprodução.

Os camponeses saíram
Para a cidade rumaram
Terra boa e produtiva
Para trás eles deixaram
Todos donos de fazendas
Lotes de cana plantaram.

Trabalhador foi trocado
Pela tecnologia
Trabalho de camponês
Ali ninguém mais queria
Era só monocultura
O resto destruiria.

Os pequenos ditiantes
Das terras abriram mão
Venderam aos fazendeiros
Pra lavoura de extensão
Não dava pra competir
Com venda de exportação.

Com toda a transformação
Eu fiquei muito chocado
Resolvi voltar depressa
Férias tinha terminado
Vim cuidar da minha vida
Muito triste e desolado.

O meu passeio foi triste
É melhor eu não lembrar
Foi cruel mas aprendi
Lembrançãs não conservar
Do passado a experiência
É o que eu devo preservar.

Às vezes fico pensando
Raciocino com franqueza
Destruição e ganância
Andam junto com a riqueza
O poder do capital
É que destrói a natureza.

Eu nada posso fazer
Além da palavra usar
Tenho o verso como arma
Na poesia popular
Entrego nas mãos de Deus
Ele é quem pode ajudar.

F I M




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