quarta-feira, 14 de maio de 2008

LITERATURA DE CORDEL

Conheci o Cordel quando era criança, lendo os versos para o meu pai, lavrador e analfabeto, sem querer me incentivou a ler e ao mesmo tempo a gostar dessa arte maravilhos que é a Literatura de Cordel. A partir de uma oficina ministrada pelo Prof. César Obeid, na Biblioteca Municipal Alceu Amoroso Lima, incentivado pelo mesmo formamos um grupo batizado com o nome de AMOROSOS DO CORDEL, sob a coordenção do César fizemos no ano passado várias apresentações em locais públicos de São Paulo, como por exemplo o Corredor Leterário. Os temas que uso para o meu cordel são variados, porém ligados a estórias populares e também temas rurais e porque não dizer até mesmo ecológicos. Vejamos, a partir do primeiro trabalho:

A ENCOMENDADORA DE ALMAS - (baseado em estórias populares)

A minha avó contou um caso
Que na roça se passava
De uma mulher casada
Que com outro namorava
Rezadeira e devota
Almas ela encomendava.

O marido confiante
Pescador tão afamado
Ela e o tal namoradinho
Pra enganar o coitado
Inventaram uma senha
Pra namorar sem cuidado.

Combinaram pendurar
Algum pano na janela
Com o marido a pescar
E em casa só tendo ela
O amante podia vim
Pra ficar bem perto dela.

O marido um certo dia
Foi pescar frio sentiu
Pano branco na janela
O rapaz de longe viu
A mulher tava sozinha
Namorado deduziu.

Ficou indisposto o marido
Sentindo que se gripou
Saiu da beira do rio
Pra casa cedo voltou
Tava tudo bem escuro
Quando o amante ali chegou.

E como era de costume
Deu na porta uma batida
O marido teve um susto
Se pôs de cabeça erguida
Ela disse: __ Deve ser
Uma pobre alma sofrida.

E o marido com tremor
Pediu pra esposa rezar
Ela que tanto sabia
As almas encomendar
A mulher foi à janela
E começou alto falar:

__ Oh alma da escuridão
Não venha nos molestar
O meu marido tá em casa
Está servindo de azar
Vá para o céu alma penada
E lembre sempre em voltar.

O marido ficou calmo
Ela na reza dizia:
__ Vou rezar um padre-nosso
O credo e uma ave-maria
Vá embora e não se esqueça
De voltar num outro dia.

E lá fora de repente
O barulho se acabou
O corno manso sorrindo
Desse jeito ele falou:
__ Sua reza foi certeira
E dormir agora eu vou.

Dormiram a noite toda
E tudo voltou ao lugar
O marido pescador
Continuou a pescar
E a mulher namoradeira
O seu amante a encontrar.

F I M

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