sexta-feira, 16 de maio de 2008

O SERTANEJO ECOLOGISTA

A estória que vou contar
Ela é cheia de verdade
Acontece com pessoas
Que nascidas na cidade
Inventa mudar de vida
Talvez sem necessidade.

Pedro era moço formoso
Dos trinta tinha passado
Trabalhava em escritório
Um rapaz muito estudado
Que vivia a reclamar
Que estava muito estressado.

Pedro um dia decidiu
a sua vida mudou
E vendeu tudo o que tinha
O trabalho dispensou
Pôs o dinheiro no bolso
E sozinho viajou.

Tava desorientado
Sem querer camaradagem
Chegou na rodoviária
Comprou logo uma passagem
Pra um lugar desconhecido
Ele fez sua viagem.

Dois dias e duas noites
Ele ficou viajando
Chegou no ponto final
E foi logo se informando
Se um lugar ali teria
Pra ele ficar morando.

Queria que fosse longe
Do barulho da cidade
Era moço estudado
Mas não tinha vaidade
Ele só queria ter
Na vida tranqüilidade.

Dali viajou a esmo
Sem ter muita direção
Quando se deu por achado
Estava em pleno sertão
Chegando em uma tapera
Sorriu com satisfação.

Colocou toda bagagem
Numa sombra ali no chão
Ele gritou:__ô de casa!
E escutou um vozeirão:
__Quero saber se é de paz
Disse logo um ancião.

__Eu sou de paz sim senhor
Tô procurando um lugar
Cansei da cidade grande
Quero no mato morar
Tenho dinheiro no bolso
Muito bem posso pagar.

O velho desconfiado
Perguntou-lhe sem malícia:
__Por acaso é um fugitivo
Se escondendo da polícia?
O rapaz sorrindo disse:
__Esse lugar é uma delícia.

O velho ficou calado
Esperando explicação
O moço compreendeu
Qual era a situação
Logo se identificou
Mostrou documentação.

O velho disse baixinho:
__Pode me chamar Raimundo
Não quero ver documento
Também corri pelo mundo
Sou velho e analfabeto
de vivência sou profundo.

O rapaz sentou no chão
Pra mostrar desprendimento
Disse ao velho:__Minha vida
Vou contar nesse momento
Sem nada pra esconder
Posso prestar juramento.

O velhinho respondeu:
__Não adianta nem jurar
Conte logo a sua vida
Talvez venha acreditar
Conheço até pelo cheiro
Quando alguém quer me enganar.

Disse o moço:__Eu nasci
E me criei na cidade
Não sou de família rica
Pode sentir à vontade
Vim pro mato pra encontrar
a tal de felicidade.

Cansei da cidade grande
Toda aquela agitação
Ganhava muito dinheiro
Faltava satisfação
Um mundo de falsidade
Só mentira e traição.

Para ver um passarinho
Só dentro de uma gaiola
Sei que tem muito recurso
Ninguém fica sem escola
Gente com muito dinheiro
Outros a pedir esmola.

Estudei fui bom aluno
Me formei na faculdade
Mas só via coisa errada
Na vida lá da cidade
Sem falar na correria
E muita barbaridade.

Fui perdendo a confiança
Em tudo que me cercava
Fui traído por amigos
E a mulher que mais amava
Era um jogo de interesse
O dinheiro é que mandava.

Tem muita poluição
Medo de na rua andar
Assalto pra todo lado
Muito carro a buzinar
Por isso que resolvi
A minha vida mudar.

Seu Raimundo me desculpa
Acho que falei demais
Me deixa ficar aqui
Que pra lá não volto mais
Nem que morra de saudade
Dos irmãos também dos pais.

Seu Raimundo pensativo
Explicou a situação
Pedro podia ficar
Mas com uma condição
Não lhe daria conforto
Pra dormir só tinha o chão.

Só havia uma rede
Que ele usava pra dormir
A comida precisava
Fazer roça e produzir
__Eu daqui não saio mais
Disse contente a sorrir.

Seu Raimundo lhe falou:
__Aqui não tem diversão
Quando quero divertir
Na viola ponho a mão
Toco e canto até cansar
Me alivia o coração.

Pedro respondeu sorrindo:
__Obrigado bom senhor
Na roça vou aprender
Bem depressa e com amor
Eu tenho muita coragem
Serei bom trabalhador.

Pedro aprendeu trabalhar
Levando uma vida dura
A tudo ele admirava
Elogiava a água pura
Aquilo era um paraíso
A vida tava segura.

Não ligava para os calos
Sua mão ficou grosseira
Tomava banho de rio
Viver no luxo é besteira
Ouvindo o som da viola
Ele dormia a noite inteira.

Contemplava a mata virgem
Não existia nada igual
A água pura da cacimba
O alimento natural
Vivia na vida simples
Sem pensar em nenhum mal.

Alguns meses se passaram
Pedro estava estropiado
Ali não tinha conforto
Noutro mundo foi criado
Falaria com Raimundo
Talvez desse resultado.

Foi quando de tardezinha
Pediu pro velho escutar:
__Seu Raimundo aqui é bom
Mas podemos melhorar
Derrubando esta mata
A roça pode aumentar.

Podemos plantar capim
E criar bastante gado
Grande lavoura de soja
Pra cuidar pago empregado
Posso aplicar meu dinheiro
Vai ser bom o resultado.

Seu Raimundo a tudo ouviu
Sem fazer interferência
O moço continuava
Falando até de ciência
O velho não se agüentava
Tinha dor na consciência.

Pedro deu prosseguimento
e deitou mais falação:
__Podemos comprar tijolos
Construir um casarão
Luz elétrica instalar
E ter até televisão.

Eu gosto da sua viola
Mas só com isso contamos
Vamos pensar no progresso
atrasados nós estamos
Vamos planejar direito
Pra ver quando começamos.

Raimundo não suportou
E nervoso foi dizendo:
__Pode parar de falar
Entendi o que tá querendo
Sou velho e analfabeto
Mas é assim que tô vivendo.

Pode arrumar sua trouxa
Aqui não fica mais não
Você fala em construir
Fazendo destruição.
Não vai cortar nem um galho
Não dou autorização.

Vá pro diabo o conforto
De casa e televisão
Não me chame de atrasado
Tenha mais educação
No que a natureza fez
Não coloque sua mão.

O rapaz todo assustado
Não encarou o velhinho
Seria melhor fazer
De volta todo caminho
Pensou poder remendar
Falando baixo e mansinho:

__Seu Raimundo mil perdões
Eu só quero lhe ajudar
Chamar a sua atenção
Pro progresso acompanhar
Viver a modernidade
Dinheiro poder ganhar.

O velho disse:__Vá embora
Está aqui como turista
Respondeu o moço__É claro!
Você é um ecologista
Pode ficar no seu mato
Vou sumir da sua vista.

O velho de cabeça erguida
Falou:__Nunca tive escola
Sou feliz nessa tapera
Não preciso sua esmola
Eu sou um caboclo matuto
Vivo com a minha viola.

O rapaz disse:__Até logo
O velho disse:__Adeus
Junte todos os seus trapos
Deixe só os que são meus
E nunca pense em voltar
Me deixe na paz de Deus.

Pedro de cabeça baixa
Pegou a mala e foi saindo
Voltou no mesmo caminho
Que um dia tinha vindo
O velho fechou a porta
Deitou na rede sorrindo.

Depois pegou na viola
E com vontade tocou
Cantou "Tristeza do Jeca"
Até que o sono chegou
Em paz com a consciência
Para rede ele voltou.

Ainda bem que o rapaz
Mostrou logo sua faceta
O velho até até hoje faz
O que lhe dá na veneta
Sem saber colaborando
Pra saúde do Planeta.

F I M












Nenhum comentário: